MINHA OPÇÃO DE SER PADRE
26-05-2014 17:52
EU QUERIA SER PADRE
Entrei para o seminário em 1993 com o objetivo de ser Padre. Não sei dizer se minha vocação teve influência da minha mãe, mas sempre desejei seguir o caminho do clero: sonhava poder celebrar, confessar o povo, atender os doentes, dar uma palavra amiga, servir o Corpo e o Sangue de Jesus na Comunhão, pregar a Palavra de Deus vigorosamente de forma a mudar o coração as pessoas. Eram meus sonhos de infância. Não sei de onde herdei esses desejos, mas me acompanharam.
Logo, veio-me a oportunidade de conhecer melhor o seminário. O Pe. Luiz Farias, primo do meu pai e reitor do Seminário Diocesano, concedeu-me permissão para passar finais de semana no seminário, sendo acolhido por meu primo Quintino, já seminarista.
Cresci, continuei os estudos. Para continuar minha formação fundamental, fui morar num Colégio interno onde passei cinco anos, terminando o Ensino Médio (antigo Segundo Grau). Nesse tempo eu desejava ser missionário, ir aos pobres como franciscano; encantei-me com a política alternativa da Esquerda, participei apaixonadamente do Movimento Nacional de Meninos de Rua, era simpatizante do MST. Ali, adolescente, a vida me mostrara que a existência não é só espiritualidade, descobri outras possibilidades para a minha existência: “yes, I can!”. Assim, suspendi temporariamente a busca pelo sacerdócio.
Em 1991, terminados os estudos, enfrentei o desafio de buscar independência, fui morar em São Paulo, a cidade dos sonhos de muitos nordestinos daquele tempo. Três amigos acompanharam-me. Na Capital da maior cidade do Brasil, fiquei um mês desempregado, sobrevivi ao preconceito e o desânimo. Trabalhei por dois anos como porteiro “folguista” num condomínio residencial na Zona Norte. Mas o sonho de ser Padre não tinha esmorecido, cultivei a semente da vocação, aguardando o momento de brotar e crescer.
Em 1993, após um período de encontros vocacionais, fui convidado para a Convivência Vocacional Redentorista. Tendo sido aprovado, entrei para o seminário em Sacramento-MG. Após este ano de Propedêutico, fiz a etapa da Filosofia em campinas – SP e logo depois o Noviciado em Tietê. Em 1998, fiz os Votos temporários e logo fui estudar Teologia na etapa do Juniorato no Alfonsianum, na Capital de São Paulo.
EU QUIS SER IRMÃO
Foi durante os estudos teológicos que pude redefinir minha opção como Irmão Redentorista. O tripé que me ajudou a fazer essa opção foi:
1- A conjuntura eclesial: o ITESP ofereceu-me uma formação sólida e muito “pé-no-chão”, com “construção interativa”. A Igreja vivia num certo marasmo pastoral, os sonhos e projetos que moviam as pastorais e movimentos da Igreja estavam morrendo... as lutas proféticas se arrefeceram, faltava lideranças que motivassem, pastores de vozes ativas, o ar do clericalismo trazia uma nova ordem. Pensei: não quero entrar num sistema que me faça ser um reprodutor de ações, um pregador de palavras que não tocam o coração nem faz movimento de resgate da pessoa; tornar-me padre não me garantia ser um fecundo evangelizador. Então pensei: porque não ser Irmão Consagrado para evangelizar de outro modo, atuando em esferas que o sacerdote não teria condições nem tempo para atuar.
2- Olhar intrapessoal: A formação redentorista me deu oportunidade de descobrir certa habilidade musical. Depois dessa descoberta, sempre desenvolvi trabalhos musicais de canto-coral voltado para a pastoral. Vendo na música um instrumento eficaz de evangelização, entendi que como Irmão poderia exercer atividades complementares com o povo, além de buscar o resgate da tradição musical da Congregação, dimensão esta que em geral não é muito cuidada. A música e outras artes seriam formas de realização pastoral e pessoal.
3- Oração para iluminar as decisões. Por um ano, em minha oração pessoal, focalizei o discernimento em busca da opção acertada à minha existência. E assim, decidi-me por ser Irmão Redentorista.
PORQUE PEDIR A ORDENAÇÃO?
Algumas motivações me impulsionam a pedir a Ordenação Sacerdotal.
a) Não se trata de mudar de opção, mais de avançar no aspecto pastoral missionário. A opção de ser Irmão não exclui ser Padre e todo Padre é, em primeiro lugar um Irmão.
b) Após 17 anos de vida redentorista e 12 anos na atividade missionária como Irmão (02 anos das Santas Missões, 07 na Formação, 02 na administração de comunidades e 01 na Direção do Portal a12.com), sinto que tenho mais serenidade e maturidade. Consciente das limitações pessoais e das minhas qualidades, sinto-me capacitado para exercer o ministério sacerdotal.
c) Certamente que ser Redentorista é a opção fundamental, central na vida dos que escolheram a Congregação. Estou ousando dar um passo rumo a assumir o Ministério sacerdotal na Igreja como forma de atuação pastoral. Como Sacerdote Redentorista, sei que tenho possibilidades de oferecer muito mais, atuando no serviço ao povo de Deus, a Congregação e a Igreja.
d) Minha vocação é missionária e, portanto, não é possível realização pessoal sem a relação direta com o povo, sem a troca da Palavra e das experiências de vida.
e) Como Irmão, pedir a Ordenação Sacerdotal não é uma atitude de arrependimento por ter sido Irmão, nem tão pouco fruto de uma decisão equivocada do passado; é uma evolução do sentimento de responsabilidade quanto a minha missão na Igreja. Estamos acostumados aos ritos do sistema de formação que coloca a ordenação sacerdotal imediatamente após os estudos teológicos. Mas a dissonância do meu itinerário vocacional me confirma que, antes de ser Padre, todo confrade dever ser irmão no mais amplo sentido do termo, isto é, a primeira e fundamental vocação do Redentorista é a vida fraterna como irmãos.
Durante esse tempo, vi que, como Irmão tive a oportunidade de entender melhor e experimentar a vida redentorista, No início da vida sacerdotal, há a tentação de supervalorizar a novidade dos ofícios litúrgicos e administrativos da realidade paroquial, esquecendo a vida fraterna. Como Irmão, o religioso é impulsionado a fazer outro caminho: sai do lugar comum e obrigatoriamente engendra um lugar próprio na Congregação e na vida da Igreja. Não ocupa um lugar anteriormente preparado, mas enfrenta o desafio de conquistar um rumo na vida comunitária e pastoral “fazendo-se Irmão” através de suas próprias habilidades.
Alguém poderá perguntar: Porque você não tornou-se padre no processo “normal” de sua formação? Não seria mais coerente com sua vocação? A vocação não é o chamado de Deus para a realização da pessoa? Você não foi desobediente a esse chamado ao optar por não ser ordenado e agora volta como um filho arrependido? Eu respondo que não. Eu tenho a alegria de ter sido Irmão no início da minha vida missionária e ter feito experiências pastorais diferentes; os confrades que seguiram o sistema formativo e tornaram-se Padres imediatamente após a Formação inicial não tiveram a oportunidade de fazer as experiências que fiz. Na existência humana, Deus nos propõe experiências de “Ser” sem que saibamos com clareza por onde seguir, por isso, precisamos de discernimento para entender, mas as formas de viver as propostas de Deus, nós as escolhemos. Vocação é proposta de Deus, movimentos do Espírito que não acontece obedecendo apenas às regras e critérios institucionais de um sistema organizado. Vocação é movimento livre dinâmico e criativo, com asas sem freios que podem não obedecer aos ritmos ordinários da vida organizada. Vocação se expressa nesse movimento do Espírito que não é possível medir, calcular, prender, dominar. Sinto-me respondendo no tempo ao apelo que me chega “hoje” ao coração. O antes e o depois, o primeiro e o último, o começo e o fim, são categorias ou percepções humanas nas quais estamos presos porque precisamos delas para guiar nossas experiências. O tempo de Deus, o pensamento de Deus, o jeito de Deus não se pode entender. “Perdidos” nEle, encontramos o sentido de tudo.
Mas o Espírito utiliza da instituição humana para inspirar a história do Homem. Para mim, a maior e mais tocante motivação para o sacerdócio é a figura carismática do Papa Francisco, homem de movimentos fascinantes e vocacionalmente sedutor, promotor de vocações. Ao ler uma entrevista que deu à revista Civiltà Cattolica”, ele diz: “Deus se manifesta numa revelação histórica, no tempo. É o tempo que inicia os processos, o espaço os cristaliza. Deus se encontra no tempo, nos processos em curso. Não se deve dar preferência aos espaços de poder frente aos tempos, às vezes longos, dos processos. Devemos colocar em marcha processos, mais do que ocupar espaços. Deus se manifesta no tempo e está presente nos processos da história. Isto nos faz preferir as ações que geram novas dinâmicas. E exige paciência e espera”. É nessa dinâmica que encontro o impulso e a direção para buscar o Sacerdócio.
Ser Padre é uma responsabilidade que se assume após um longo tempo de discernimento. Durante os últimos dois anos, tenho rezado sobre isso e conversado com alguns confrades e amigos mais próximos. Ao iniciar este ano de 2014, em meu projeto de vida, propus-me caminhar na direção da vida sacerdotal. Para isso, dou o segundo passo: apresentar-me à Congregação como candidato a receber o Sacramento da Ordem. Oxalá, apesar das minhas imperfeições, Deus guie meus passos e ajude a abrir-me suficientemente para que Ele atue e trabalhe em mim, fazendo-me mais moldável à sua vontade, como instrumento do seu Reino.
Fraternalmente, em Cristo, Maria, Afonso e Geraldo,
Ir. José Torres