O Papa foi embora... e agora?

01-09-2013 10:54

A conta gotas, ando lendo os discursos do papa Francisco, especialmente aqueles que proferiu no Rio de Janeiro no mês de julho passado, por ocasião da JMJ. Eu prometi para mim mesmo que queria ter contato mais reflexivo com o que disse o sucessor de Pedro, agora, sem as emoções e euforias do momento. De fato foi uma grande surpresa ver o Papa falando como um pai aos filhos que ama. Mas depois do seu retorno a Roma, o que mudou em nós cristãos católicos brasileiros? Aquilo que vimos era um “fogo de palha”?

Essas perguntas não querem calar. É que depois da JMJ o mundo católico se calou, os jovens voltaram para suas casas e eu fiquei esperando acontecer alguma coisa a mais que não fosse somente festa. Eu achava que surgiriam dos líderes eclesiásticos, propostas de reavivamento para as organizações juvenis, de mobilização para se pensar o futuro dos jovens brasileiros, pelo menos para uma continuidade nas Paróquias e Dioceses daquilo que se viveu, refletiu e celebrou no Rio... mas parece que foi bom enquanto durou.

O Papa veio e, com o seu jeito humilde, mostrou que ser Papa, ser sacerdote, ser religioso ou religiosa, ser cristão (mais importante que ser católico) é focar o Evangelho como critério de vida. Quebrou os esquemas que evidenciam poder e, com a autoridade de homem sábio, deixou a hierarquia conservadora meio que envergonhada, com um sorriso amarelado no rosto. Sua maneira de ser, por alguns momentos, destronou alguns príncipes da Igreja. E o povo aplaudiu porque “faz falta” na maioria do nosso clero a profundidade de vida, a atenção, atitudes de misericórdia, a paciência, a criatividade, o testemunho evangélico e a espiritualidade fecunda.

No encontro com o episcopado brasileiro, Francisco faz denúncias fortíssimas. Imagino que alguns epíscopos devem ter chorado por dentro, com exceção de uns poucos que devem ter vibrado de alegria por testemunharem aquele momento de sopro do Espírito. As denúncias do Papa são apresentadas cada vez que ele diz “faz falta...”. Quando constatamos um vazio onde algo deveria existir, então dizemos que algo nos faz falta. No encontro com o Episcopado brasileiro, Francisco faz afirmações duras, audaciosas. Elas denunciam problemas sérios que se tornaram habituais: uma igreja voltada para o clericalismo, afastada dos compromissos radicais que o Evangelho nos propõe.

Mas me inquieta perceber o silêncio abafador do eco voz do papa Francisco. A impressão é que testemunhamos toda a beleza daqueles momentos da JMJ e agora voltamos para a realidade sem conseguirmos iluminar o cotidiano com a mensagem que recebemos.

O que nos inspiram os últimos acontecimentos? O que as denúncias do Papa nos desafia a refazer? A voz de Francisco será atendida pelo clero e pelos leigos e leigas? Quais as atitudes que vamos escolher, comodidade ou audácia? Devo estar pessimista, pois não consigo enxergar sinais que indiquem desejo de aspirar os novos ares do Espírito, que "sopra onde quer”. Mas, como Deus nos surprendeu ultimamente, com a eleição de Francisco, ainda há muita esperança!

Ir. José Torres

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