São Geraldo: lendas e denúncias
14-10-2013 15:10
Amados irmãos e irmãs.
São Geraldo Majela: um santo que nasceu na cidade de Muro, na Itália; um Irmão Missionário Redentorista que, desde criança, desejou ser santo.
A história de São Geraldo está cheia de narrativas ou lendas que falam de seus milagres e de sua relação com Deus e com o povo. As pessoas que conviveram com Geraldo perceberam nele a presença de Deus, e até chegaram a exagerar nos relatos para dizer com firmeza que Geraldo, desde criança, já tinha uma intimidade com Deus.
Muitas histórias sobre São Geraldo falam sobre um pãozinho branco que ele recebia das mãos do Menino Jesus. Uma das mais conhecidas diz que a família de Geraldo era muito pobre, vivia na penúria e quando ele tinha apenas 07 aninhos, como não tinha o que comer em casa, costumava sair para brincar com alguns amiguinhos. E sempre que voltava, trazia um pãozinho branco nas mãos. “A cena repetiu-se várias vezes. Sempre que ele chegava em casa, a mãe perguntava:
- ‘Quem foi que te deu este pão?’
- ‘Foi um menino, filho de uma senhora muito bonita, que gosta de brincar comigo’”[1].
Anos mais tarde, quando Geraldo já era um Irmão Redentorista, encontra sua irmã Brígida e reinterpreta esse “acontecimento” dizendo:
- Agora eu entendo, aquele menino que me dava o pão era Jesus, e eu achava que fosse apenas um garoto como eu.
Sua irmã sugere que ele volte ao mesmo local para encontra-lo, mas Geraldo responde:
- “agora o encontro por todas as partes”. [2]
As historinhas sobre Geraldo parecem ingênuas, são lendas misturadas com fatos, mas o que importa é que os fiéis daquela época, ao transmitir os fatos, quiseram mostrar como o santo se relacionava com Deus; como, em Geraldo, o poder divino se manifestou; e como a graça de Deus acontecia quando Geraldo se encontrava com eles. São relatos projetivos que pretendem alimentar a fé do povo e sustentar sua vida espiritual.
Acontece que, naquela época, havia muita fome, os pobres não tinham outra opção a não ser comer o pão de péssima qualidade, de sabor ruim, “feito com grãos defeituosos, misturado com farinha de castanha e, por não se poder conservá-lo adequadamente, enchia-se muitas vezes com fungos.”[3] Já os ricos, “donos das terras e das pessoas”[4] comiam o pão branco, alimento fino e saboroso.
Essa historinha do pão branco, mostra a inocência e a pureza de Geraldo, mas também faz uma denúncia grave: denuncia que existe um grande muro entre os pobres que passam fome e os nobres que esbanjam riquezas; denuncia que existem pessoas que se dizem cristãs, que se dizem seguidoras de Jesus mas exploram os seus irmãos.
A mensagem desse fato curioso sobre a vida de São Geraldo nos ilumina a enxergar também a realidade em que vivemos. Nos dias de hoje, São Geraldo continua fazendo a mesma denúncia: existem muitos muros de separação entre pobres e ricos; falta partilha entre irmãos que participam da mesma comunidade; existe ganância e acúmulo de riquezas de poucos que provoca a fome e a vida sofrida de muitos que não possuem sequer o essencial para viver.
1- Há doentes morrendo nas filas dos hospitais: faltam médicos? Falta estrutura para atendimento? Ou falta solidariedade?
2- Ainda temos milhares de pessoas sofrendo com a seca no Nordeste: que fazem os políticos cristãos que há décadas governam e legislam?
3- Existe o escândalo do tráfico de pessoas, especialmente de mulheres e crianças que são exploradas, escravizadas, comercializadas, movimentando “cerca de 32 milhões de dólares por ano: O que fazemos contra isso? De que lado estamos?
4- O lixo do preconceito é uma das formas de violência mais usadas no dia-a-dia: Qual é a nossa atitude, sabemos acolher as vítimas dos preconceitos ou condenamos e excluímos os outros com esse lixo que está dentro de nós?
5- Um grande número de adultos, crianças e adolescentes dependentes das drogas, vivem nas famosas “crackolândias” das grandes cidades: enquanto Igreja de Jesus, o que fazemos para resgatá-los, redimi-los, salvá-los?
Tudo isso deve nos questionar! Porque ainda há tantos muros entre nós cristãos? O que fazemos diante deles? Peçamos a São Geraldo que nos ajude!
Querido São Geraldo, protetor dos pobres, das mães grávidas e das crianças recém-nascidas: Como é bonita a sua pureza de coração! Desde criança, brincavas com Deus numa amizade fecunda, sem reservas, sem senhas para o Divino Redentor! Ensina-nos a sermos amigos de Deus, a encontra-Lo em toda parte e anunciar que Ele continua fazendo morada conosco e age fazendo milagres diariamente através de pessoas como nós! Ensina-nos a fazer a vontade de Deus, a partilhar o pão com os que sofrem; ajude-nos a promover o amor e a justiça, a construir pontes que nos aproximem uns dos outros. Óh, amado missionário dos pobres, dê-nos coragem para acabarmos com a divisão, o preconceito, o luxo, a insensibilidade diante do sofrimento do outro; inspire-nos para que não nos acomodemos diante da corrupção e injustiças de políticos e instituições que roubam o pão da mesa dos pobres; ajude-nos a sermos solidários com as vítimas das injustiças causadas por quem deveria fazer justiça; Ajude-nos a derrubar os muros que fabricam pobreza e morte; Inspire nossas comunidades no compromisso de construir uma Igreja missionária, que seja mais próxima dos que sofrem, atenta a curar às vítimas das lepras de hoje (como bem nos falou o Evangelho); uma Igreja generosa, misericordiosa e solidária.
São Geraldo, missionário dos pobres, rogai por nós! Amém!
Ir. José Torres, CSsR.
[1] MOURÃO, Gerardo Mello: O Bêbado de Deus, Green Forest do Brasil: São Paulo, 2002, p.29
[2] Idem CORRIVEAU p. 24
[3] LONDOÑO, Noel: Uma leitura Sociográfica da História de São Geraldo. In:... p. 25
[4] Idem